(ARTIGOS E COLUNAS))Ruy e a procura de um estadista
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Ives Gandra Martins |
Por Ives Gandra Martins RUY E A PROCURA DE UM ESTADISTA
- (Diário do Comércio – 11/06/2013)
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- Meus primeiros contatos com Ruy Mesquita ocorreram
- quando
- presidia o diretório metropolitano do Partido Liber
- tador, de 1962 a
- 1964. Era o único partido parlamentarista do Brasil
- , tendo como
- seu presidente nacional a inesquecível figura de Ra
- ul Pilla. Desde o
- primeiro contato, impressionou-me a objetividade, a
- precisão de
- conceitos e a inabalável crença no país e na democr
- acia.
- Com o Ato Institucional nº 2 de 1965, abandonei a p
- olítica,
- dedicando-me inteiramente a advocacia e ao magistér
- io
- universitário. Retomamos nossos contatos quando pre
- sidi o
- Instituto dos Advogados de São Paulo. À época, seu
- jornal deu
- inteira cobertura às iniciativas pela redemocratiza
- ção, assim como
- contra o abuso tributário. Foi dele a idéia da camp
- anha,
- encampada pelo IASP e pela Associação Comercial de
- São Paulo,
- do “Diga não ao leão”, a qual levou o Presidente Sa
- rney a alterar a
- legislação do imposto de renda, por força da pressã
- o popular.
- Nunca, nos meus 56 anos de advocacia, vi, em matéri
- a fiscal,
- pressão popular semelhante. O povo nas ruas obrigou
- o governo a
- alterar a legislação, para amenizá-la. E a inspiraç
- ão foi de Ruy.
- Lembro-me da conferência que proferiu na abertura d
- e congresso
- que coordenei sobre a Nova Constituição, dez dias a
- ntes de sua
- promulgação, em Belo Horizonte. Suas palavras impac
- taram a
- todos os presentes, juristas, senadores, deputados,
- ministros e
- governadores. Não me dedicarei, todavia, neste brev
- e artigo, às
- inúmeras lições que deixou aos operadores de direit
- o. Analisarei a
- conferência que proferiu no I Congresso Nacional de
- Executivos
- Financeiros (Jornal da Tarde, 15/10/83) sob o títul
- o: “A procura
- de um estadista”, e que, hoje, lida, revelou-se pro
- fética.
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- A Editora Saraiva publicou-a, posteriormente, em li
- vro completado
- com alguns artigos meus também veiculados no Jornal
- da Tarde,
- intitulado “O poder”. Ao reler, após sua morte, aqu
- ele fantástico
- alerta de Ruy, dei-me conta de sua impressionante a
- tualidade. Em
- análise contundente, mas clara, prevê que poderíamo
- s tornar-nos
- uma república socialista, se não atalhássemos o apa
- relhamento
- do Estado, livrando-o daqueles que gostariam que to
- da a
- cidadania ficasse subordinada aos ditames e humores
- dos
- detentores do poder. E alertava para os riscos que
- a livre iniciativa
- e livre concorrência poderiam sofrer no Brasil, com
- a intervenção
- crescente do Estado, em suas diversas manifestações
- .
- De certa forma, hoje, no governo da Presidente Dilm
- a, com PIB
- cada vez menor e inflação cada vez maior, sem cresc
- imento
- previsível pela frente e com um alargamento das est
- ruturas
- oficiais e uma burocracia asfixiante, as previsões
- do inesquecível
- Ruy, dos maiores jornalistas da historia do Brasil,
- revelam-se,
- infelizmente, atuais. Nenhum país é tão burocratiza
- do, tão
- ineficiente em suas estruturas administrativas, tão
- voltado aos
- interesses dos próprios detentores do poder como o
- Brasil.
- Quando a remuneração da mão de obra ativa e inativa
- do governo
- federal, representa 10 vezes o valor da Bolsa Famíl
- ia - que atende
- 13 milhões de famílias -, percebe-se que a carga tr
- ibutária
- superior a 35% do PIB, em sua maior parte, é destin
- ada à
- sustentação do “establishement”, à semelhança do qu
- e ocorre nos
- governos socialistas.
- Não sem razão, o governo brasileiro tudo faz para s
- e curvar aos
- governos bolivarianos da Venezuela --, verdadeira d
- itadura, onde a
- oposição não tem sequer o direito de manifestar-se
- nos meios de
- comunicação, nem obter recontagem de votos, numa el
- eição cujos
- duvidosos resultados garantiram um outro aprendiz d
- e ditador no
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- poder─, da Bolívia, do Equador e da Argentina. Algu
- m destes
- países, como Argentina, Venezuela e Bolívia, estão
- com problemas
- econômicos sérios, entre os quais a alta inflação e
- baixo PIB não
- são os únicos.
- O fato de não buscar parceiros confiáveis, não esta
- belecer acordos
- comerciais bilaterais –temos 3 ridículos tratados—
- e submetermo-
- nos aos governos destes países, que sempre levaram
- a melhor, nas
- discussões comerciais com o Brasil, está a demonstr
- ar a nítida
- preferência do governo brasileiro por estas “quase
- ditaduras”,
- silenciando a todos atentados contra a democracia,
- liberdade de
- imprensa, independência do Poder Judiciário e direi
- tos das
- oposições, nelas perpetradas.
- Os diversos editoriais que o Estado apresentou, ain
- da sob a
- supervisão de Ruy, vêm alertando a deterioração da
- democracia
- nestes países e o alinhamento brasileiro com tais s
- emi-
- democracias, que prefere à independência e autonomi
- a de
- negociação livremente com outras nações, submeter-s
- e a seu jugo.
- O que impressiona, todavia, no atual quadro naciona
- l é a
- semelhança com a situação vivida em começos de 80,
- que levou
- Ruy, naquela antológica conferência, a alertar para
- os riscos de o
- Brasil tornar-se uma “República Socialista”.
- Reconhecia ele, então, como reconheço, nos dias de
- hoje, que os
- anticorpos da democracia brasileira contra tais ten
- dências são
- mais eficientes do que os dos nossos vizinhos. É ce
- rto, todavia,
- que começam a se tornar frágeis em face da preferên
- cia ideológica
- de quem detém o poder da República e que, no passad
- o, ao lado
- de outros guerrilheiros formados em Cuba, lutou con
- tra o regime
- de exceção de 64 a 85, não necessariamente para ins
- talar uma
- verdadeira democracia, como muitos deles confessara
- m.
- Num momento, em que o Brasil precisa de inteligênci
- as como a de
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- Ruy, capaz de, com particular percuciência, diagnos
- ticar os males
- da nação e propor soluções conseqüentes, sua falta
- será
- especialmente sentida.
- Ruy Mesquita, que conheci e admirei desde os primei
- ros contatos
- e cuja vida acompanhei, muitas vezes, nos seus esfo
- rços para
- despertar a nação, está entre as figuras dos grand
- es pensadores
- da comunicação, que marcam uma época. No seu curríc
- ulo, o
- reconhecimento dos detentores do poder nunca lhe fe
- z falta. Hoje,
- porém, sua ausência faz incomensurável falta ao Bra
- sil. O artigo é do Jurista Ives Gandra Martins , e escreve para (ARTIGOS E COLUNAS)
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