sábado, 15 de junho de 2013

(ARTIGOS E COLUNAS))Ruy e a procura de um estadista

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Ives Gandra Martins
  •                                                                                                                                                                       Radionetnews Por Ives Gandra Martins                                                                                                                                                      RUY E A PROCURA DE UM ESTADISTA

  • (Diário do Comércio – 11/06/2013)
  • Meus primeiros contatos com Ruy Mesquita ocorreram
  • quando
  • presidia o diretório metropolitano do Partido Liber
  • tador, de 1962 a
  • 1964. Era o único partido parlamentarista do Brasil
  • , tendo como
  • seu presidente nacional a inesquecível figura de Ra
  • ul Pilla. Desde o
  • primeiro contato, impressionou-me a objetividade, a
  • precisão de
  • conceitos e a inabalável crença no país e na democr
  • acia.
  • Com o Ato Institucional nº 2 de 1965, abandonei a p
  • olítica,
  • dedicando-me inteiramente a advocacia e ao magistér
  • io
  • universitário. Retomamos nossos contatos quando pre
  • sidi o
  • Instituto dos Advogados de São Paulo. À época, seu
  • jornal deu
  • inteira cobertura às iniciativas pela redemocratiza
  • ção, assim como
  • contra o abuso tributário. Foi dele a idéia da camp
  • anha,
  • encampada pelo IASP e pela Associação Comercial de
  • São Paulo,
  • do “Diga não ao leão”, a qual levou o Presidente Sa
  • rney a alterar a
  • legislação do imposto de renda, por força da pressã
  • o popular.
  • Nunca, nos meus 56 anos de advocacia, vi, em matéri
  • a fiscal,
  • pressão popular semelhante. O povo nas ruas obrigou
  • o governo a
  • alterar a legislação, para amenizá-la. E a inspiraç
  • ão foi de Ruy.
  • Lembro-me da conferência que proferiu na abertura d
  • e congresso
  • que coordenei sobre a Nova Constituição, dez dias a
  • ntes de sua
  • promulgação, em Belo Horizonte. Suas palavras impac
  • taram a
  • todos os presentes, juristas, senadores, deputados,
  • ministros e
  • governadores. Não me dedicarei, todavia, neste brev
  • e artigo, às
  • inúmeras lições que deixou aos operadores de direit
  • o. Analisarei a
  • conferência que proferiu no I Congresso Nacional de
  • Executivos
  • Financeiros (Jornal da Tarde, 15/10/83) sob o títul
  • o: “A procura
  • de um estadista”, e que, hoje, lida, revelou-se pro
  • fética.
  • 2
  • A Editora Saraiva publicou-a, posteriormente, em li
  • vro completado
  • com alguns artigos meus também veiculados no Jornal
  • da Tarde,
  • intitulado “O poder”. Ao reler, após sua morte, aqu
  • ele fantástico
  • alerta de Ruy, dei-me conta de sua impressionante a
  • tualidade. Em
  • análise contundente, mas clara, prevê que poderíamo
  • s tornar-nos
  • uma república socialista, se não atalhássemos o apa
  • relhamento
  • do Estado, livrando-o daqueles que gostariam que to
  • da a
  • cidadania ficasse subordinada aos ditames e humores
  • dos
  • detentores do poder. E alertava para os riscos que
  • a livre iniciativa
  • e livre concorrência poderiam sofrer no Brasil, com
  • a intervenção
  • crescente do Estado, em suas diversas manifestações
  • .
  • De certa forma, hoje, no governo da Presidente Dilm
  • a, com PIB
  • cada vez menor e inflação cada vez maior, sem cresc
  • imento
  • previsível pela frente e com um alargamento das est
  • ruturas
  • oficiais e uma burocracia asfixiante, as previsões
  • do inesquecível
  • Ruy, dos maiores jornalistas da historia do Brasil,
  • revelam-se,
  • infelizmente, atuais. Nenhum país é tão burocratiza
  • do, tão
  • ineficiente em suas estruturas administrativas, tão
  • voltado aos
  • interesses dos próprios detentores do poder como o
  • Brasil.
  • Quando a remuneração da mão de obra ativa e inativa
  • do governo
  • federal, representa 10 vezes o valor da Bolsa Famíl
  • ia - que atende
  • 13 milhões de famílias -, percebe-se que a carga tr
  • ibutária
  • superior a 35% do PIB, em sua maior parte, é destin
  • ada à
  • sustentação do “establishement”, à semelhança do qu
  • e ocorre nos
  • governos socialistas.
  • Não sem razão, o governo brasileiro tudo faz para s
  • e curvar aos
  • governos bolivarianos da Venezuela --, verdadeira d
  • itadura, onde a
  • oposição não tem sequer o direito de manifestar-se
  • nos meios de
  • comunicação, nem obter recontagem de votos, numa el
  • eição cujos
  • duvidosos resultados garantiram um outro aprendiz d
  • e ditador no
  • 3
  • poder─, da Bolívia, do Equador e da Argentina. Algu
  • m destes
  • países, como Argentina, Venezuela e Bolívia, estão
  • com problemas
  • econômicos sérios, entre os quais a alta inflação e
  • baixo PIB não
  • são os únicos.
  • O fato de não buscar parceiros confiáveis, não esta
  • belecer acordos
  • comerciais bilaterais –temos 3 ridículos tratados—
  • e submetermo-
  • nos aos governos destes países, que sempre levaram
  • a melhor, nas
  • discussões comerciais com o Brasil, está a demonstr
  • ar a nítida
  • preferência do governo brasileiro por estas “quase
  • ditaduras”,
  • silenciando a todos atentados contra a democracia,
  • liberdade de
  • imprensa, independência do Poder Judiciário e direi
  • tos das
  • oposições, nelas perpetradas.
  • Os diversos editoriais que o Estado apresentou, ain
  • da sob a
  • supervisão de Ruy, vêm alertando a deterioração da
  • democracia
  • nestes países e o alinhamento brasileiro com tais s
  • emi-
  • democracias, que prefere à independência e autonomi
  • a de
  • negociação livremente com outras nações, submeter-s
  • e a seu jugo.
  • O que impressiona, todavia, no atual quadro naciona
  • l é a
  • semelhança com a situação vivida em começos de 80,
  • que levou
  • Ruy, naquela antológica conferência, a alertar para
  • os riscos de o
  • Brasil tornar-se uma “República Socialista”.
  • Reconhecia ele, então, como reconheço, nos dias de
  • hoje, que os
  • anticorpos da democracia brasileira contra tais ten
  • dências são
  • mais eficientes do que os dos nossos vizinhos. É ce
  • rto, todavia,
  • que começam a se tornar frágeis em face da preferên
  • cia ideológica
  • de quem detém o poder da República e que, no passad
  • o, ao lado
  • de outros guerrilheiros formados em Cuba, lutou con
  • tra o regime
  • de exceção de 64 a 85, não necessariamente para ins
  • talar uma
  • verdadeira democracia, como muitos deles confessara
  • m.
  • Num momento, em que o Brasil precisa de inteligênci
  • as como a de
  • 4
  • Ruy, capaz de, com particular percuciência, diagnos
  • ticar os males
  • da nação e propor soluções conseqüentes, sua falta
  • será
  • especialmente sentida.
  • Ruy Mesquita, que conheci e admirei desde os primei
  • ros contatos
  • e cuja vida acompanhei, muitas vezes, nos seus esfo
  • rços para
  • despertar a nação, está entre as figuras dos grand
  • es pensadores
  • da comunicação, que marcam uma época. No seu curríc
  • ulo, o
  • reconhecimento dos detentores do poder nunca lhe fe
  • z falta. Hoje,
  • porém, sua ausência faz incomensurável falta ao Bra
  • sil.    O artigo é do Jurista Ives Gandra Martins , e escreve para (ARTIGOS E COLUNAS)

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